quinta-feira, 13 de novembro de 2014

- em tempos de.

Em tempos de solidão, quase não dá pra mensurar quando um vai embora. E nem dá também pra falar de saudade, e nem dá pra falar de só, de sozinho. É que só, pode ser uma palavra tão bonita, mas tão doída. Em tempos de solidão, quando tá cheio, tá vazio. Acho que deve ser assim que as coisas vão embora, num piscar de olhos, num descuido do acaso, num movimento tênue. As coisas vão embora quando a gente para pra amarrar o tênis, elas não esperam...parece que estão sempre atrasadas pra tomar o trem. O sinal das portas, elas entram e nem olham pra trás. As coisas vão embora sem dizer pra onde, vão indo. Acho que é assim com tudo, com as coisas grandes e pequenas, no fundo é tão fácil deixá-las ir, e tão fácil se desapegar, talvez esteja aí o vazio do desapego. O desapego é um engano. Muitas coisas foram embora, muitas. Eu fui. Fui tanto que nem posso mais voltar, nem me lembro donde era, nem me recordo das marcas de um caminho, nem sei se fui pelo curto ou pelo longo. As coisas vão embora com a mesma rapidez súbita com que se vai a lesma no caminhar do mundo. Eu fico pensando que a lesma é bem rápida, mas tão rápida, que fica até em câmera lenta. Pense só: a lesma é mais rápida do que a montanha, do que a árvore, do que a água, do que o vento...a lesma é mais rápida do que várias coisas que demoram pra terminar de existir. E assim, as pessoas, que são tão rápidas quanto elas, podem ser tão devagar quando vistas em comparação com o cosmos. E nem é de saudade, mas o fato é que o homem fica triste hoje, porque aquele que falava de silêncio hoje grita em outros rumos. Os homens ficam tristes hoje, porque quem será que vai caminhar tal qual as lesmas? Fica triste por que ninguém olha pro chão investigando suas belezas, e feiuras. Eu fico triste, por que mal tive tempo de conhecer as coisas, e elas já tão indo. E se eu fosse falar de saudade, nem seria tão triste como é agora, e saudade é uma coisa que não vai embora.

terça-feira, 24 de junho de 2014

- numa janela virada pra rua.

Estive sonhando com o que acontecerá na próxima primavera. Será que deus vai parar de fabricar margaridas com pétalas em números pares? Essa historia de bem-me-quer me parece um pouco ingenua.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

- Desleal (parte II)

O copo vazio, minha dor cheia de glamour e meus sonhos expostos na mesa. Meu baralho incompleto, meu jogo "furado", minhas mentiras amarelas, meus sorrisos extremos, meus olhares perdidos e meu silêncio "tererê". O som quebrado, as mãos formigando e meus pés gelados. A noite cheia, a casa vazia e a hora que não passa. O tédio. Soletrando: T-é-d-i-o. Fotos velhas, momentos passados, estante cheia de coisas inúteis e bebelôs feios. Televisão colorida com imagens ultrapassadas filmadas em algum lugar longe daqui. Tudo sem vírgula. Aldous, Morrisey, Elis, Raul, Borges, Clarice, Janis, Etta, Jorge e a porra toda. O free acabou. Sempre acaba. Que silêncio aqui dentro.

quinta-feira, 27 de março de 2014

- sem cigarros.

- Quando a gente olha pra trás, percebe como e por que, ficamos tão inertes. A constatação mais fria e fácil é a de que "dizer" é sempre um desafio no mundo. Capitalizar o amor, a companhia que não nos fazemos a nós mesmos. Pouco tempo só, muito tempo sozinho. Ninguém pode medir o peso das nossas bolas de ferro. Aliás, muitas vezes nossas bolas de ferro pesam uma grama. Não sabemos, porque não nos mexemos para saber. Sinto mais falta do tempo que perdi, pensando em quanto tempo eu perdi, do que o tempo que poderia não ter perdido. Perder? Acho uma palavra tão vulnerável, perder não combina com desistir. No fundo, só queremos que alguma coisa pareça dar certo, alguma coisa nos indique um rastro de certeza, um rastro de cheiro de flor, algo que, na verdade, não nos permita pensar no mundo tal como ele é. "Eu quero dias lindos sorrindo pra mim, eu quero amar, eu quero ficar louco!!" É um clichê, mas é inegável, que os clichês são truísmos. Verdades banais, que quase perdem o sentido pela convicção com que os repetimos. Eu acredito neles, assim como acredito que não passava de uma história mal contada, mal escrita e mal encenada. É como as novelinhas do Manoel Carlos. Queremos dramas burgueses, pra não pensar nos nossos próprios e irrevogáveis dramas reais.