sábado, 26 de março de 2016

Rima pobre.

Na cidade de pedra
Se não tem mato, eu me morro
No concreto dos prédios
Se não tem ar, eu me atiro
Na fumaça dos carros
Se não tem pé, eu te peço
Que no sufoco dos dias
Se não tem trégua, eu me entrego
No sofá eu me deixo, e no copo me queixo
Por um pingo de água, por um pingo de apreço
Na cidade do escuro, no horizonte eu me perco
E nas ruas ferventes, nos homens sujos me vejo
Se o tempo eu vendo, no espaço me prendo
Pra pagar o que nego, e dever o que penso.

sábado, 12 de março de 2016

Das coisas que eu não sei fazer.

Estava eu só, fazendo as contas na varanda. Estava calculando se devia ou não fumar aquele cigarro. Calculei: um maço custa r$ 7,50 dinheiros, dividi, no meu esforço humanóide, isso por 20, conclui algo por volta dos 0,40 centavos de dinheiro. Pensei que, está inviável fumar um maço por dia. Pensei então que deveria fazer o maço durar por dois dias, e calculei de novo o quanto isso me custaria. Eram quase dez da noite, e chovia de leve. E eu ainda me punha nessa danação de calcular o alívio. Tinham quatro. Pensei que se fosse dormir cedo, talvez durasse até o almoço do dia seguinte, e comecei a arquitetar de que forma dormiria cedo, na angústia do alívio. Talvez se me deitasse e forçasse a mente ao nada, conseguiria. Não dava, estava muito entediada pra dormir. Então pensei que se Julia chegasse em casa, pediria um cigarro pra ela, e pouparia os meus. No fundo, eu não conseguia parar de pensar em como resolver o impasse. Passei um café, numa ilusão de que isso postergaria o cigarro. Na verdade, sabia eu, que isso seria fatal.
Pois bem, eu acendi o dito. E dava duas longas tragadas, enquanto colocava meu tesouro na mureta. Ao bater a primeira leva das cinzas, não teve jeito de impedir. O vento forte carregou meu maço pra laje do vizinho. E aí eu quis chorar, e disse que não ia me render. Fiquei furiosa...
Quando vi, lá estava eu, na garoa, as onze, no posto de gasolina.