quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

drops. Arrume a cama todos os dias.

Quando a gente joga, qualquer coisa que mantenha duas pessoas aparentemente vibrantes por um longo tempo, tem sempre alguém blefando. É interessante perceber a falta de integridade desses jogos cômodos. Fica um de um lado e um do outro, ludibriando, tramando. Nada é só. Só, é só o que somos no mundo. Afinal, estamos falando de conforto, não de amor, não é mesmo? Os jogos são assim, assim. Nem dá pra dizer que cada rodada foi uma mentira, sempre tem uma verdade, a verdade é que você nunca vai saber quem mente: se é você que finge não saber, ou se é o outro, que finge não mentir. Nunca vai saber. Cheguemos, portanto, ao fim desse papo estranho, pra quê a gente começa?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

- a nuvem.

O que nos diferencia (para além de sermos estranhos e alheios a nós mesmos, ao nosso desalento, nosso sofrimento participativo! Fica aqui uma quase ironia) é a capacidade de imaginar, abstrair, criar imagens. Somos seres mágicos, mitológicos e nos projetamos no mundo com nossa marca inapagável, esteticamente tradutora de quem somos, do quanto ocupamos em nós, do quanto ocupamos do mundo. Somos aquilo que imaginamos, com a facilidade e simultaneidade dos nossos impulsos criadores. Imaginamos, abstraímos e logo depois materializamos a nossa imagem. Como seres que ocupam muito mais do que espaços, lugares e tempos. Ocupamos também os não-lugares, a não-temporalidade, ocupamos nossa imaginação inteira, nossa expansão inteligente no cosmos do mundo - que vai sempre além de nós, mas, nada mais é do que nosso alcance imaginativo. Como se tudo que nos rodeia fossem nossos próprios sentidos, todos eles misturados numa sinestesia absoluta, onde os cheiros ganham formas imaginárias, formas se tornam matérias enigmáticas e etc, que se transformam em mitologia de nós, do nosso ser. Somos diferentes porque sepultamos seres mortos e os pintamos nas paredes, telas e máquinas fotográficas. Somos diferentes porque não nos bastamos. Codificamos e decodificamos o mundo, onde nossos signos só fazem sentido numa microesfera da nossa própria comunidade humana, fragmentada em pequenos grupos humanóides. Somos assim, porque estamos numa bolha-homem. Homem na sua mais pura intimidade, quase como se o mundo fosse espelho de si mesmo. A memória se projeta na natureza, se espatifando no chão, deixando rastros. Pelo chão do mundo estão as imagens que compõem quem somos. Somos e nem sabemos. Somos e não nos reconhecemos. Somos, porém, e não nos esquecemos. Não sei, mas como homem que sou, precisava marcar no espaço nuvem - virtual, aquilo que projeto e imagino sobre aquilo que estou pensando justamente sobre isso, e essencialmente por ser isso. Como vamos nos reconhecer, se nossas marcas são tão virtuais, num futuro intocável?

domingo, 25 de agosto de 2013

- não é muito, mas é tudo.

Parem todos vocês de desocupar a minha vida. Parem de impedir que eu a ocupe comigo dentro, não fora. Parem de falar sobre essas coisas, parem de me expulsar de mim. Me deixem em paz... ou só no sofá.

sábado, 17 de agosto de 2013

- menos de um segundo.

Não tem como. Ou o mundo é belo ou é humano. O que eu acredito? Em tudo, que é quase nada.

domingo, 11 de agosto de 2013

- um antiácido, por favor.

Enquanto vira de um gole só um copo de sei lá o quê, faz parecer que não se importa nem um pouco com as dores. Dores de saudade, dores da agonia, dores da existência. Sabe-se lá pra onde vai, não vai a lugar algum desse jeito. Não tem jeito, só não acredito nas faixas para pedestres, ou nessas sinalizações subjetivas, que orientam os corpos das pessoas ao andarem pela cidade. Querendo, elas são de longe, a direção mais explícita do nosso desconforto físico em dividir espaços. Onde ficam esperando todas as palavras quando não as pronunciamos? Elas aguardam o que, quem? Estou numa dimensão diferente, eu ando pelas ruas, avenidas e vazios. A desintegração de uma imagem, de um som, de um movimento, nada mais é do que o nosso próprio jeito de ir morrendo. Progressivamente, as pessoas se despedem de si, fazem carinhos nas suas próprias cabeças, elas se afagam, e logo depois se destroem. Enquanto tudo isso passa, friamente pelos olhares desconhecidos, a preocupação latente é apenas satisfazer-se com os prazeres da miséria. A miséria é tão mal cheirosa que não importa se as flores existem. Entra no ônibus, senta-se ao lado de alguém minuciosamente escolhido pelos seus defeitos ou qualidades, e se transporta para o universo. Aquele mesmo, feito de vidros, mas sem nenhuma transparência. Quando alguém acorda ainda com a sensação de não ter dormido, existe algo de muito errado com o mundo. Ninguém deveria acordar antes de dormir. Ninguém deveria dormir só por que tem que acordar. Deveria ser uma história de amor e fúria, mas é só de amor. As pessoas furiosas não estão mais aqui. Um dia um cara furioso saiu por aí espalhando sua fúria pelo mundo. Ninguém gosta de fúria. Hoje, ouvi dizer, que esse cara é conhecido como "aquele que pregava o amor!". Vai entender, não sei não, mas acho que precisamos revisitar essa história. Nada convence mais do que a falta de fé, desacreditar é bem mais fácil, por fim. O fato é que estamos todos aqui, transitando, com toda pretensão surreal de merecer. Merecer o céu, merecer o amor, merecer a noite e seus boêmios, merecer, sobretudo, a incapacidade de sair do lugar. Todos nós merecemos a apatia e a inércia do mundo, merecemos por que não fazemos nada para não merecê-las. Merecemos a mediocridade. Quem foi que inventou o mundo? Pois é, por isso mesmo merecemos a mediocridade. Só gente medíocre pode inventar uma abstração desse tamanho. Quanta azia, quanta azia...o mundo não me caiu bem hoje.

domingo, 28 de julho de 2013

- A vida não tem passado.

Estou olhando agora pra uma coisa que está bem na linha tênue entre as coisas que existem e as que não existem. Sabe aquela linha que divide o céu e o mar? Em linhas como essa, que quase não se distinguem, estão todas as respostas pro desagrado da vida cotidiana. Lá estão escondidas as histórias de desamor mais belas. Essas linhas, são como aquele momento do dia em que se está quase acordado, um momento de sinestesia, onde o que se escuta se mistura com o subconsciente, produzindo cheiros e cores. Nessa linha estamos eu e você - é um segredo universal não sabermos quem somos e continuarmos no mundo. Como sabemos se estamos vivos? Não sabemos, só não sabemos. Ainda há nessa linha tênue todas as fontes de sabedoria disponíveis para o homem, lá que se escondem os grandes homens junto com as grandes mulheres. De lá saem as mais lindas melodias, de lá sai também todo o ódio, genuíno, sincero. De lá saímos nós. Embriagados de sol. Caminhando sobre a casca do mundo, só perscrutando respostas e respostas. O ser humano vive dentro da terra? O ser humano vive todo dentro de mim. Eu também, moço, espero uma canção que seja capaz de acordar os homens e adormecer as crianças. Eu também espero que a angústia do mundo contemporâneo seja algo que se possa comer. Espero que possamos engoli-la, espero que possamos vomitá-la. Eu também espero que os relógios só sejam um "algo velho" que diga muito pouco sobre quem somos ou quem fomos. Espero que os livros sejam pessoas. Que os dias por si só já sejam a vida se consumindo. Os dias, progressivamente, sejam mais vida do que significam hoje. Um dia seja uma vida inteira que passa. Espero que possamos fumar nosso cigarro como se não houvesse amanhã, não porque podemos morrer, mas porque podemos continuar vivendo. Viver é o verdadeiro medo que deve ser levado em consideração. Fazer tudo como se fôssemos morrer é um engano, porque se morrermos não importa se comemos nosso bolo ou se fumamos nosso cigarro, não é? Eu espero que as pessoas tenham mais a chance de acreditar no acaso. Espero que elas se encontrem, transem, briguem, se amem, e possam inclusive dizer adeus. Espero que elas tenham passado - bem ou mal.

domingo, 30 de junho de 2013

- fome de nada.

Caminhando nas ruas frias de São Paulo, olhando atentamente as vielas, os cantos, os buracos, percebi que eu ainda não encontrei nada aqui que me faça desistir. Nada que me impeça de ir trabalhar, nada mais. Eu olhei pra tudo olhei pra mim, olhei pra você, olhei pra nós. Retomei anseios, retomei à mim. Não sei o que fazer com isso, não sei o que fazer quando estou na minha presença, há algo que se possa fazer? Os famintos, como eu, recusam-se a esperar, esperar por alguma coisa, recusam-se a culpar a si mesmos por não caminharem. Eu estou faminta, e nada que tenha preço pode sanar minha fome.

domingo, 12 de maio de 2013

- free.

Enquanto caminhava no asfalto, pensou se seria isso mesmo que gostaria de fazer. Não isso: caminhar no asfalto, mas talvez pensou que não gostaria de ir fazer o que estava indo fazer. Na verdade, pensava em quantos cigarros ainda tinha, quanto dinheiro ainda tinha e quanto de amor ainda tinha. Não se caminha sem cigarros, mas provavelmente caminhar sem amor é muito mais leve.