sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Sobre as luas.

É uma nova fase.
Acorda, olha o dia. Se é amarelo sorri. Se não, abre a geladeira, pra ver o amarelo. As paredes de todas as casa deveriam ser amarelas.
É uma nova fase.
Parece como aqueles jogos de videogame, você vai passando de fases, ganha uns sanguinhos, perde uns sanguinhos. Tem aqueles lances de acelerar a tela, ou de fazer ficar devagar. Você pode cair em alguns buracos e recomeçar...mas enfim, era só pra ser um exemplo tosco.
Aí você acorda, checa o dia, e segue. Em alguns momentos há muito o que fazer, em outros vários nadas se acumulam na esteira de pensamentos, aqueles que tendem a procrastinação. Você tem uma lista de coisas importantes do dia, mas elas nem são tão importantes. É como se escovar os dentes ou passar o café fossem coisas as quais você deve se orgulhar em fazer - realizar. É uma fase, agora me confundi se é nova.
Em algum momento você decide que é hora de levar as coisas a sério. Você realmente acha que precisa seguir alguns passos. Você insiste que não da mais pra viver um dia de cada vez, porque os dias se acumulam, e o resultado do passado não é tão óbvio quanto parece. No fim até é, mas a coisa de procrastinar e tal sempre faz você achar que...simplificando, você percebe que podia fazer um filme sobre todos os filmes que você tentou fazer (teve um cara genial, que não me recordo agora, que fez isso) ou a sensação de que todas as suas tentativas de fazer coisas foi a própria coisa que você andou fazendo nos últimos meses - anos. Mas isso também é um detalhe.
Aí esse pensamento todo vira, de novo, procrastinação. Então você resolve que não da mais. Encontra um par amável e tenta assumir que a vida é feita de escolhas. São as escolhas. Tem esse lance de signo, que acaba fazendo você acreditar que é incapaz de fazer escolhas. Não que eu duvide que seja astral, mas também acho que tem uma parte da biologia e outra parte que são os boletos (e aí, boletos significam economia e sociedade). Mas eu me apego naquilo que eu posso ler em três linhas, em qualquer jornal vagabundo, naquela coluna rosa, que também fala de roupas e sapatos e, claro, cruzadinhas.
Aí tem a coisa das escolhas. Você finalmente decide. E quando acontece de você decidir antes que aquilo não seja mais uma opção, você se questiona se o destino não contava com o fato de você ser uma pessoa que nunca decide. Será que você está lutando contra o destino?
Mas também tem aquilo, você sempre diz que não acredita nessas coisas, e que o materialismo histórico e ...enfim, você definitivamente escolheu o objeto de estudo errado, não entende como fez isso se nunca soube lidar com os tempos verbais. O Present Perfect é sua praia mesmo, e tem esse detalhe também, você nunca conseguiu sair dessa fase.
O pensamento do dia é: acordar, nem sempre escovar os dentes, fumar um cigarro, passar o café, pensar nas coisas úteis que tem que fazer, e procrastinar sobre elas. Se remoer por não tê-las realizado e recomeçar o ciclo. Tudo bem. Essa é doença do século.
Agora são duas escovas, duas toalhas, panos de bunda, lista do mercado, boletos de coisas que você nem lembra que usa, sexo, sexo ótimo, sexo estranho, pizza do mês, ressacas injustificáveis, planos.
São futuros. Dois futuros.
Retomando a coisa da lista, essa parte é a mais difícil. Se você não lembrar do pó do café - não haverá pó do café. A responsabilidade de toda a sobrevivência é automaticamente transferida a ponto de você se perguntar como sobreviveu até aqui (?). Isso eu já sabia, afinal...bom a gente assiste umas novelas, vê uns filmes, lê uns blogs no facebook. Você tinha absoluta certeza que com você nunca seria assim, mas é. Ah, e você também se pergunta porque a autoestima se transfigura tão rapidamente, considerando que no mesmo dia você se sente uma diva argentina cantando quizás, e aquelas mulheres de programas norte americanos com uma cor de pele amarelada (da cor do hamburguer do Mc), roupas de moletom e batom nos dentes. Mas isso também é só uma observação frenética e mal feita, já que, segundo os astros, você não é muito boa em observar.
Você vê as coisas bonitas acontecendo. Mas também tem aquelas que simplesmente não fazem o menor sentido. A propósito, essa semana as pessoas descobriram que existem obras de arte com representações de pênis e vaginas. Eu achei estranho, porque antes de estudar sobre arte, eu achava que todas as obras tinham pênis e vagina, depois descobri que isso era mais renascentista, sei lá. Tem as coisas bonitas acontecendo, aquele olhar carinhoso e aquele riso besta, de quando há futuros...mas não é simples entender o que aconteceu com a cabeça das pessoas, elas estão tão conformadas...e loucas. Realmente não dá pra explicar.
Mas você não tem mais energia pra sair com faixas, fazer paródia, abraçar desconhecidos. Você está guardando sua energia para as pedras, o fogo.
É fase. Já nem uma, nem nova.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Parta.

Não acordei achando alguma coisa surpreendente. Naquele dia não esperava nada. Era um sintoma de que o dia seria a réplica daqueles outros. Me arrastei até os afazeres mesquinhos do capital. Aquele ritual perverso que sempre me consumiu, e me insultara sempre. Era dia de descanso, era dia de festa pra alguns. Passei o dia cortando uns limões, nada metafórico. Não esperava nada.
Pra falar verdade, tive a oportunidade de não sê-lo. Eu quis.
Foi tão estranho, foi tão corriqueiro, estranhamente corriqueiro. Parece que não houve nada. Foi normal. Eu esperava o constrangimento, esperava a falta de ar, esperava as mãos inquietas, esperava sentir, esperava chorar e não chorar. Não foi. Exatamente como tem que ser, e eu não queria que o fosse. Foi exatamente como é.
Tentei lembrar, a coisa do engolir a seco. A sensação de que perdi algo, mas nem sei direito o quê. A tendência a achar que o normal é bom. Não foi. Foi um encontro de banalidades, foi o enterro delas. Foi como tinha que fingir ser. Foi sem nenhuma palavra. Foi sem verso, sem prosa, sem nada pra frente. Foi tímido, foi triste. As banalidades, os clichês. Tinha que ser assim, afinal, de tudo aquilo que vivemos, o que não era um clichê? Era tudo verdade. Era?
Mas a velha sensação, àquela das roupas que não nos cabem mais. A coisa do passado velho, amarelado, esquecido e lembrado. Não tinha que ser mais nada, tinha que ser nada. Exatamente como findou.
Quando se tem tanto a dizer, mas nada sai, tudo o que se pensa em dizer depende de uma cadeia de dizeres, não daria tempo, não tem como começar, então é melhor nem ousar. Quando nem o silêncio exprime, quando nem ele da conta de remendar os porquês, os "não sei", os "perdões". Não tem perdão, não tem culpa pra tê-lo. É só a vida, Essa sucessão de dias que nos traz aqui. Foi só a vida. Não tem nada a ver com...amor. Que loucura é a partida. Não se parte na vida, ninguém parte. Essa é a parte triste de sempre estar.

sexta-feira, 3 de março de 2017

caia na real.

Enquanto pensa em todas as catástrofes humanas, espirituais, místicas no cosmo celestial azul, a cabeça frita, em tudo aquilo que não existe.
Não existe. Mas isso não é o suficiente. O mundo é isso aí: universos paralelos, deuses imortais, a mente que voa, só pra você não ter que caçar seu almoço e saber que é só isso.
Não é só isso, não pode ser só isso. Mas é.
Tente ver que nada existe, e você só precisa resistir bravamente às próximas 24 horas, que também não são exatas, mas tente sobreviver só às próximas 24 horas.
E pronto! Parece pouco, mas é tudo.
Não adianta mesmo, esqueça todas as leituras herméticas e não herméticas que fez na vida, na esperança de alcançar o saber transformador...esqueça do cosmo celestial azul. Isso não será útil nas próximas 24 horas. Esqueça mesmo aqueles estranhos ruídos melódicos que ouviu achando que era a grande invenção humana, a pura nata da criatividade do homem. Tente sobreviver às próximas 24 horas.
Lembre-se: nada disso vai ser útil nas próximas 24 horas.
Vamos agora achar graça no que é de verdade a existência: levante de sua cama historicamente construída. Pense só: nos tempos anteriores, ela seria digna de uma realeza. Levante dessa cama.
Agora, vá até seu banheiro, aquele que parte da ideia de higienização das coisas todas. Esse também, é quase um sinal de realeza. A cachoeira em miniatura que sai do cano de ferro, estrategicamente posicionado na sua louça de cerâmica - um artefato incrível - e se delicie com essa água que cai e no entanto não inunda o seu redor. E incrível, ela para de jorrar quando você quer. Lave seu rosto, e siga.
Vá caçar. Isso, atravesse a rua, lute bravamente pelo seu alimento da manhã. Leve suas armas e formule suas estratégias. Pegue sua presa numa sacola de plástico e coma todo o glúten do mundo. Aquele maravilhoso alimento da alma. Símbolo da riqueza e da miséria.
Agora pense que a oportunidade de organizar a si mesmo nesse espaço bravamente conquistado do seu território. Arrume sua vida, organiza sua cama real. Lave sua cachoeira particular. Não esqueça de colocar seus trajes na maravilhosa invenção humana, esta sim.
Agora repita essa ritual, até que a noite caia, e você verdadeiramente tenha feito todas as funções vitais para esse humano iluminado que é. Na verdade você merece toda a vida real que tem. Durma e, viu, sobreviveu às 24 horas que comprovam que você existe! O resto é fantasia. Se concentre nisso. Se concentre nisso. Caia na real, e não se levante de lá.