quinta-feira, 27 de março de 2008

- Memórias Póstumas de um Herói anônimo.

Por um momento ele sentiu seu corpo entorpecer, e teve medo de fechar os olhos.
Aquele velho filme passava em sua cabeça, e o fazia chorar por dentro. Onde estaria ele agora...não fazia sentido algum.
Lembrou-se da criança em seu colo, e das lindas palavras doces que recitava enquanto balançava suavemente as pernas para cima e para baixo, causando risadinhas e o enchendo gradativamente de paz. Recordou-se do beijo de boa noite, e do "eu te amo" infantil que saía sem pudor daquela garotinha. Deixou cair uma lágrima, quando trouxe à mente a imagem da mulher forte que o esperava todos os dias com um copo de café amargo.
Aquele momento parecia não ter fim, 30 segundos apenas, simularam uma vida inteira sem direito à interferência. Um turbilhão de coisas passavam pela sua cabeça, e cada uma delas pareciam ferir ainda mais aquele pobre coração.
As pessoas falavam ao fundo, mas não surtia efeito no seu cinema particular.
Questionava-se sem parar, por que não ficara em casa aquele dia, por que não adiara os planos, por que fora tão protetor a ponto de... não tinha mais importância.
Não sentia mais dor, não sentia mais raiva, não sentia mais as coisas, conseguia apenas pensar no amor, na pena. Foram os segundos mais longos de sua vida, e os últimos.
Ali se encerrava pra ele uma vida inteira de alegrias e tristezas. Restavam só lembranças.
Não importava para onde ia, não se interessava em saber qual seria seu caminho, ele só pensava mesmo no que deixara pra trás.
Para sempre ficarão intactas as cenas de quando doces palavras dizia para aquela garotinha, do último beijo de boa noite, da mulher forte que sempre o esperava com café amargo, e de todas as imagens contidas num pedaço de vida. O filme era dele, o herói e protagonista era ele...mas a saudade é delas.

terça-feira, 25 de março de 2008

- Detroit in '68

Ela tem medo de roda - gigante.
Não é nada... nada mesmo perto dos medos que a rodeia. Todos os dias ela pensa num futuro bom, e nas mil palavras bonitas, sonha alto com o amor, e se cala diante das dúvidas que assola suas convicções.
Disse que foi um sonho, e repetiu consigo mesmo que foi - que é.
Por que há dúvida? Não pode ser tão claro quanto já é. Ela é feliz, e isso a assusta mais do que um maranhado (palavra que ela adora usar) de baratas todas juntas se mexendo pra lá e pra cá.
Olhando-a de longe, parece ser confiante e convicta, mas, esconde algo minuciosamente em seus cabelos sempre amarrados. O medo.
Ela diz que vive sem isso, sem aquilo, e ultimamente se vê dependente de tanta coisa que, por algum motivo, não acreditava. O que pode ser pior pra ela do que depender? O que poderia colocá-la mais abaixo de seu orgulho, do que admitir que ama tanto algo, que não consegue se ver sem?
Oh! Não, não. Ela não é viciada em drogas, a não ser as passivas. Ela não é uma compulsiva, nem uma alcoólatra, muito menos uma hippie que acredita que a maconha pode libertar a mente humana...não isso não. Pra ela, é pior.
Seu vício mata muito mais lentamente do que doses de solidão, e dá um prazer muito melhor do que chocolate meio - amargo. E quem disse que ela quer se ver livre disso, não, não. Ela adora essa sensação de querer não ser independente, porque ela sabe, que isso é discurso alternativo demais para o...
Tudo que ela quer é se afogar nesse maranhado (palavra que adora usar) de sentimentos doces e amargos, felizes e tristes, fortes e suaves - Esse paradoxo ambulante que é sua vida. Quer alcançar a liberdade, e a liberdade é pouco demais pro tamanho das suas ambições; quer amor, ela quer amar mais do que qualquer um...
Ela está viciada em querer, e o querer se resume em quatro letras que ofuscam o alfabeto inteiro, que destroem as palavras que as acompanham e fazem do sonho universal um só - Sim. O que deseja é mais do que dias perfeitos; ela quer dias ruins, ela quer dias de chuva, dias de frio, ela quer tudo ou nada.
Veja só... agora ela está nos braços da felicidade...e a felicidade a abraça com amor na Rua Detroit, nº '68...

domingo, 16 de março de 2008

- Assassinato Cruel. (?)

Hoje, vamos matar o tempo, convido-os - sejam cúmplices do mais brutal assassinato da história.
Um nada pra dizer, e um nada pra ouvir. Ao acaso, matarei o dono da minha ansiedade, o responsável pela minha pressa, o mandante das loucuras abstratas de todos os tipos, que cometo todos os dias (dias, horas, minutos, segundos...), o motivo pelo qual lutamos pra ver chegar o fim - E ele sim, dizer que é o fim.
Que tempo louco, é frio, calor.
Temos pressa meu bem, quero alcançar meu tempo, quero alcançar meu amor, chegar perto ao sol, derramar minhas queixas no mar, escrever nomes na areia e fazer juras de amor.
O tempo diz que apaga, diz que faz esquecer, diz que dá experiência - O tempo manda, o tempo faz.
Só que hoje, eu o matei. Hoje sufoquei os segundos com um toque de malícia, despachei da minha casa os minutos num repente de 30 segundos, expulsei as horas junto com o gato preto que dá má sorte.
Já que é assim, nenhum assassinato cometi, apenas explusei o que mais faz parte de mim.
Agora sinto falta de tempo, sinto falta de mim por tempo integral.
Dizem por aí, que o tempo não volta mais...

sexta-feira, 14 de março de 2008

- Poesia, dia.

E ao dia da Poesia, devo um perdão à Castro Alves, que releve minha linhas e letras tortas e mal usadas.
Que considere meu sentimento, que permita minha usura, que não se sinta ofendido por meus versos desajustados.
Hoje é dia da alma. Dia da Poesia.

segunda-feira, 10 de março de 2008

- Dez ilusões.

Pior do que a dor do Adeus só poderia ser mesmo o aviso prévio deste.
A estação estava cheia, e o barulho zunia no ouvido dela, afastando a concentração do que planejava. Pensava no telefonema do dia anterior, e refletia sobre o que havia dito com o coração livre de arrependimentos. Seria fútil dizer que foi fácil - Não foi.
Cada estação que passava ia aumentando sua espectativa de ver o ato concretizado, e a cada porta que se abria do veículo ia dando a sensação de querer um cigarro e café para amenizar suas dúvidas (talvez).
Faltavam ali pouco mais de 5 minutos, e sua mão já soava frio, sentia borboletas fazendo barbúrdia no seu estômago, preferiu pensar ser por conta do cachorro quente que comera um pouco antes.
Pronto, ali estava, sozinha; uma noite estrelada e com uma brisa leve, fria. À essa altura, tinha ninguém na estação, por um tempo sentiu um fervor subindo-lhe a espinha, mas sentou-se no banquinho que muitas vezes estivera totalmente ocupado, e hoje não teria de disputar com ninguém o banco preferêncial. Foram os próximos 25 minutos olhando para o nada, queimando até o filtro suas esperanças.
Desistindo do quê viera fazer, virou-se em direção à saída, e sentiu um cheiro familiar, olhou para trás, não viu o que queria ver. Sim era proibido fumar ali, foi o que o guardinha noturno disse; jogou fora o cigarro quase acabado, e calou-se diante a placa que noticiava o fato. Não havia mais nada que pudesse ser feito, ela sabia disso. Deu a meia volta e engolindo seu orgulho atravessou a rua, e deu sinal pro ônibus vazio ... repleta de insegurança.

sexta-feira, 7 de março de 2008

- Fotografia de Out(ub)ro.

Vilipendiando as rotinas.
Rezando alto em boate com olhares sórdidos.
Refazendo palavras dispersas
Atualizando idéias passadas
Perscrutando destinos absolutos.
Formulando respostas perdidas.
"Soneteando" um conto de amor;
Pobre sentimento doce.