quarta-feira, 30 de abril de 2008

- Epicentro.

Quando vem, vem de uma vez.
Chuva, chuva. Carros passam de lá pra cá, numa agonia que estrangula o céu, comprime as Avenidas e tornam imperceptíveis as pessoas e seus guardas-chuvas. Uns esbarram nas paredes dos edifícios, outros preferem as capas, alguns optam pelo sabor meio ácido da chuva de São Paulo - Capital.
Há quem diga, que se pode usufruir da chuva e seus sabores, e eu ainda prefiro acreditar que esta afirmação, descabida talvez, seja verdadeira.
Olhando de longe, parecem apenas luzes, se enfileirando em meio as àguas agitadas, que fazem do cenário um pouco mais cinza. A água se torna cinza também. Tudo parece ser estatizado, como se fosse fotografado por um alguém imaginário, por ângulos secretos. Olhares secretos.
Quantos ali, gostariam de um abraço, um afago, ou somente uma cama quente com cobertores macios? Impossível realizar a contagem, e mais impossível ainda aproximar alguma resposta.
Onde quero chegar? Não sei. Acho que a lugar algum. São só relatos de uma cena corriqueira (que esconde complexidades, impossíveis de serem relatadas).
A passarela, parece mesmo um altar, um altar sagrado de onde um Rei observa seus súditos. E as vezes é bom sentir-se Rei, mesmo sem coroação prévia. Sem cerimônias e obrigações.
Eu, com todas as visões e sentidos amplos e aguçados, naquele momento não tenho a sensibilidade de destngüir quem sou. Talvez seja o que quiser, o que quiserem, ou o que conseguirem exergar interna ou externamente. Fácil, simples assim.
A chuva foi gradualmente parando, até que parou, cessou. A sensação de Rei foi se enfileirando junto aos carros e partiu. A fotografia, antes cinza, foi ganhando cor. E eu, voltando a ser normal.

domingo, 27 de abril de 2008

- (Re)viver.

"Na realidade o amor é uma coisa tão simples... Veja-o como uma flor que nasce e morre em seguida por que tem que morrer. Nada de querer guardar a flor dentro de um livro, não existe nada mais triste no mundo do que fingir que há vida onde a vida acabou."

(Lygia Fagundes Teles)

sábado, 26 de abril de 2008

- Descobrimento. (método das partidas dobradas).

A parte que toca o mais próximo do limite, desejado, humano, é a abundância de alegria - Alegria plena.
A garota nem sabe o que é tristeza, ela sorri, sorri...tudo é transformado em estrelas que brilham mais do que seus próprios olhos, e os perfumes, ah, os perfumes são mais aguçados e intensos do que os exalados por Damas da Noite. Todos os dias ela deseja mais nada em sua vida, pois, sabe que tudo que tem é perfeito para seu cotidiano, completa perfeição. Inimaginável, ela conseguiu o que jamais fora conseguido - Alegria plena.
Apesar de nem saber a diferença entre Felicidade e Alegria, ela segue dizendo que possúi os dois. Podem dizer o que quiserem, ela não consegue separar esses dois sentimentos, ou momentos como dizem por aí.
É tanta alegria, que chega a ser melancólico, estático, constante demais.
Foi daí, que começou a pensar, que tanta alegria nunca será possível. Quando é muito, torna-se pouco demais. Muito é tão pouco.
A primeira vez que acordou com a sensação de querer estar triste, sentir o gosto amargo e necessário da reflexão que advém da tristeza. Sentiu que se fosse alegre a vida toda, nada seria completo. Método das partidas dobradas. Um lado só não é bom, é essencial que existam dois lados.
Era estranho admitir para ela mesma que, com tanta alegria que tinha, conseguia sentir falta daquilo que tantos rejeitam. Privilegiada era ela, porque todos os dias eram lindos, ou talvez não tão lindos, mas eram lindos o bastante para torná-la plenamente feliz. O que pode ocorrer numa mente alegre, em meio de tanta sede por alguma tristeza?
E por não conseguir ser triste, a moça dos olhos brilhantes, sentia uma imensa e profunda vontade de fazer algo a si mesma para tornar-se triste, mesmo que por um momento.
Seria ela, um ser de outro mundo? Como jogar, ou querer jogar, um tesouro tão valioso, pelo qual lutam tantos para conseguir?
É inevitável nossa revolta a nos deparar com um alguém assim. Chega a ser um insulto. É como jogar um prato de comida no lixo, na frente de alguém que sente fome - Fome. Como expor o suicídio a quem teme a Deus. É "comparável" a abandonar um filho, quando existem muitos que não podem tê-lo. Tão terrível.
Mas, à pobre, culpa não poderia ser atribuída. Ela nem sabia que tristeza era ruim, não sentira nunca, e por mais que tenham todos, o mesmo desejo de alegria, ela, somente ela, queria provar do cálice, jogar do outro lado, nadar contra a maré.
Nessa busca por sentir, foi cada dia desejando mais e mais aquilo, a ponto de chegar a ser sua meta de vida, seu objetivo.
Não adiantava, não conseguia, sua agonia a impedia de pensar noutra coisa.
Sem mais relutar, buscar, correr - Sentou-se na calçada, pôs-se a chorar, aprofundou a cabeça dentre as pernas. Ficou inerte por uns segundos, e ao levantar a cabeça, enxugar as lágrimas - Riu. Sentiu. Era aquilo.

sábado, 19 de abril de 2008

-O som dos cubos de gelo.

Ultimamente tenho estado triste. Não consigo mais escrever. Nada parece fazer sentido. Leio, leio e se caio na tentação de ler novamente - Apago.
Não sei, acho que desaprendi a escrever com alma. Minha necessidade continua a mesma, mas fica tão inerte, sem movimento, sem verdade meus textos.
Triste.
Se busco inspiração nos textos passados, apago-os também.
Parece que tudo é nada.
Os textos do passado não fazem mais o efeito que faziam antes.
Os textos presentes não me causam nenhum efeito, nem de desabafo, nem de satisfação.
E não sei se serei capaz de recomeçar, talvez deva parar.
Antes, pensava que os momentos em que ouvia o estalar dos teclados, eram os melhores do dia.
Era a única coisa que de fato "sabia" fazer.
Sem isso, me sinto desprovida de qualquer coisa de bom. Qualquer talento ou dom. Parece que não sei fazer nada, até as tarefas mais simples se tornam mais difíceis. Me dá a sensação de ter nascido sem nenhuma habilidade.
Fico pensando, se não sei mais escrever, o que sei?
Cantar não sei, dançar também não, dar estrelinhas e cambalhotas pra mim é impossível.
Não toco instrumentos, não desenho bem, não falo bem, não pinto bem.
Não sei fazer melodias, nem fazer ponto - cruz. Não sei jogar volei nem futebol.
Não sou boa em matemática, não sei fazer comida.
O que eu sei fazer?
Acho que nasci mesmo só para amar.

- Dois.

Discos e livros que queria ter. Eles nem fazem mais tanto sentido quanto antes.
A inspiração diária foi dar uma volta na esquina, e tudo parece tão opaco.
Quando olho as luzes vermelhas dos carros, se encontrando com o horizonte (indefinido), começo então a pensar na vida. Tudo passa pela cabeça embaralhando as cartas que achei ter como triunfo.
É tão intenso o céu misturado com aquela cor "meio vermelho meio rosa", me dá uma sensação de liberdade (condicional), parece que meus dias se honram quando o sol se esconde por detrás das casas.
Falar em primeira pessoa é estranho, parece que falo como se fosse eu a personagem na história. Não, não sou.
Os dramas, as meninas, as estórias; são elas reais? As vezes confundo a minha realidade com a realidade que gostaria de ter. Tudo vira uma coisa só, e eu me perco nas mil personalidades que atribuo a cada uma das sensações descritas ou impostas à uma "ela".
Acho mesmo que virei Macabéia, acho mesmo que encontrei a Via Crucis. Achei a minha alma num lugar bonito (a minha estrela tem hora marcada para surgir).
A felicidade amedronta, faz as pernas bambearem, traz o medo de perdê-la, a vontade de tê-la cada vez mais e em porções maiores. Não dá pra se contentar com as migalhas que ela oferece, ela coloca o mel nos nossos lábios sutilmente, e quando se pensa que vai se deliciar com o pote todo, ela arranca das mãos a recompensa pela paciência.
Não é tristeza, não é reclamação, talvez nem seja real.
Hoje senti medo, medo por mim e medo por nós. Por mim, senti a necessidade de permanecer, por nós senti a vontade de viver.
Não estou optando por você ou só por mim, opto pelo plural.
As coisas podem se resumir em sonhos, talvez seja exatamente ao contrário. Os sonhos podem se resumir em coisas. Na verdade, acho que sou covarde demais para admitir minha fraqueza. Assumir a minha redenção.
Não, não é vida pessoal, não sou eu quem fala aqui. Lê-se as palavras das garotas dos textos anteriores, esse é mais um conto, mais uma estória para amenizar a necessidade.
No final, a mocinha se deita no sofá, e pensa nas conversas agradáveis dos dias anteriores, e por transmissão de pensamento, ela fecha os olhos e vê diante de si os olhos negros (que ela tanto preza nele) perdidos em algum lugar fixo daquela avenida.

domingo, 13 de abril de 2008

- Apagando memórias.

Terceiro texto que apago depois de lê-lo mais de uma vez.
Este serve pra dizer que apagar texto, é apagar memória.
Apaguei a memória em mim, e o texto ficou na carne.
Novamente apagarei, se preciso, este.
E nada vai tirá-lo da memória, pois cada palavra digitada, permanece no foco de meus dedos.
É assim que se apaga memória, existe um botão dentro de nós. Delete. Delete.

sábado, 5 de abril de 2008

- A via crucis do corpo (ou Macabeando a vida)

- Um sopro de vida, determinou que em mim, cabia uma alma.
Só de pensar na alma, me dói a alma. Perdê-la por aí, quando me partir, vai ser doloroso.
Meu corpo faz a ligação entre o que realmente sou ao que eu realmente gostaria de ser ( de Mente e Alma).
Uma vida não pode ser ensosa, não pode ser incolor, não pode ser feito água - que a gente toma pra sobreviver. A vida tem que ser feito um Café amargo, feito um copo ardente de Vodca, um vinho seco talvez. Desce ardendo, e ao mesmo tempo suavizando, queimando a boca e depois passando a força pela garganta seca. Irrigando as cordas vocais desafinadas.
Se pudesse sentir intensamente o gosto da vida, se conseguisse definí-la em um copo "de-qualquer-coisa" (que não fosse água). Nada contra a água, mas ela é vital; a vida não tem que ser vital porque ela já é vida, e tudo tem que ser instinto, nada tem que ser obrigado, nada calculado.
Injusta, curta, Curta - Metragem. Não ganhei o prêmio de melhor atuação, nem melhor figurino, ao menos coadjuvante. É assim mesmo, vive-se, vive-se, perde-se, perde-se, e nada se ganha. Ganha - se, o pôr do sol, só.
Um sopro de vida determinou que em mim, essa alma, já não mais cabia.

terça-feira, 1 de abril de 2008

- Hóspede (in)esperado.

Enquanto procuramos respostas objetivas, fazemos as perguntas de forma subliminar.
Buscamos amor, e encontramos a oportunidade de demonstrá-lo, por algum motivo isso não nos basta. Amar é verbo, mas ninguém o pratica. Sinta-se amado querido.
Hoje é o dia de perscrutar os significados da palavra chave da alegria. Amar seria relacionamento afetivo? Ou talvez sentimento de proteção materna... não importa, ele está por aí.
Onde fica toda essa demagogia, onde se escondem as ambições de paz quando por elas percorrem desesperados corações em fúria?
As ruas ficam vazias depois das três, e é nessa hora que a paz se estabelece nas vielas.
Ah, o amor. O amor não se esconde debaixo de lençóis num Motel barato, ele não se isola num quarto entre duas pessoas apaixonadas. Ele se instala no coração dos amigos do peito, e até se comove com tanto amor que se faz presente no coração d'uma mãe.
Embora viva em todos os que vivem, o amor se esconde as vezes, se abstem de mostrar-se amigo; porque ele só aparece se você, dono do ambrigo, quiser.
Ele não invade, ela não adentra, não se humilha. É orgulhoso, e procura um lugar seguro, onde seja usado corretamente. Ele não odeia exageros, mas, a discrição lhe faz bem; suporta o ciúme, porque motiva a aumentar-lhe a casa concedida. Não paga aluguel, é folgado um bocado, e exige que lhe dêem comida, sombra e água fresca. Reclama quando há confusão, bate no andar de cima quando há barulho, e se opõe a imprevistos - Mas é tão inconstante...
Surge em qualquer momento, inconveniênte que só.
Estabelece laços entre qualquer um, de qualquer raça, religião, partido e até mesmo time de futebol. Seja homem, seja mulher, seja os dois - Ele resolve fazer do jeito que quer. Daí, surgem as diferenças, mas não tem problema, ele supera.
Amigo, eu já nem sei mais o que ele quer de mim. Presente 25 horas por dia, se mete no meio das minhas amizades, dá um jeitnho bem malandro de se envolver entre eu e um suspiro.
Acabo por então, permitir sua entrada, e até me acustumo com a sua insensatez. Caro amigo Amor, peço-lhe apenas que, já que veio, permaneça; e faça bem feito o serviço que lhe foi concedido, mantenha sempre acesa a chama que me une àqueles que me fazem bem.
E não esqueça de cumprir seu serviço lá fora, mantenha também acesas as outras chamas que queimam mesmo nos Motéis baratos, nas vielas, nas rodas de samba, no showzinhos de róque, nos barzinhos escuros, nas conversas maternas, no leite oferecido aos recém - nascidos, nos encontros casuais de velhos amigos, nos encontros não casuais dos novos amigos, nas Igrejas onde rezam por um mundo mais justo e principalmente nos corações de quem, ainda deve te abrigar.