Educação não é mercadoria. Esse tem sido o lema dos estudantes da Universidade Federal de São Paulo, dos campi Baixada Santista, Guarulhos, Diadema e São Jose dos Campos.
Há cinco anos o governo federal numa parceria com o Banco Mundial elaborou um plano mais do que genial para expandir as vagas públicas nas universidades - o Reuni. Sim, digo plano genial, pois se propõe com a verba de uma, construir quatro. Além das quatro já "construídas" ainda existem duas em projeto, Itaquera e Osasco.
Entendemos que é importante expandir as vagas do ensino superior público, porém acreditamos, impreterivelmente, que isso deveria ser feito com qualidade.
Nós, do campus Guarulhos temos enfrentado problemas, desde estruturais até acadêmicos.
Nosso campus não possui estrutura física para suportar o número de alunos, por conta disso, usamos um dispositivo do município de Guarulhos, destinado à educação básica e fundamental do bairro do Pimentas (CEU), para garantir nossas aulas. Isso implica num conflito que temos de conviver todos os dias, o de privar a comunidade desse serviço básico. Além disso, não encontramos uma estrutura acadêmica preparada para as necessidades, devido a recorrente mudança nas grades curriculares, que acaba prejudicando a formação dos alunos. Também tem se mostrado a falta de eletivas e matérias importantes para os graduandos, que não são oferecidas por falta de salas de aula.
Mais grave do que isso se manifesta no âmbito da Assistência Estudantil, cujo atende um número bastante inferior ao necessário, tendo inclusive problemas nos critérios de "disputa" pelas poucas bolsas que são oferecidas. Quando falamos de Assistência Estudantil, nos referimos a condições básicas de manutenção dos estudantes no campus, como transporte, alimentação, pesquisa e moradia. No âmbito da alimentação, enfrentamos diariamente o problema do "bandejão", que além de ser um serviço terceirizado, se configurou como uma medida provisória que permanece até hoje funcionando, a um custo elevado em comparação com outras universidades públicas, além da má qualidade, tanto nutricional quanto na higiene.
Existem muitos outros problemas enfrentados pelos alunos, que hoje lutam, não pelo prédio dos sonhos, mas por condições mínimas para que os cursos sejam realizados de maneira satisfatória.
Sabemos que os outros três campi, possuem os mesmos problemas e ainda outros mais absurdos. O campus da Baixada Santista, por exemplo, oferece o curso de Ed. Física sem uma quadra e piscina esportivas, tendo os alunos que recorrer a mecanismos municipais e privados para terem as aulas práticas.
Não há como se calar diante desse escândalo. Para onde vai o dinheiro público?
Foram encontrados, além de todos esses problemas, indícios de desvios de verba, dentre os mais graves, uma mudança de 6 milhões de reais que eram destinados à Assistência Estudantil para outro setor, cujo ainda se mantém misterioso e desconhecido, por falta de explicações da Reitoria.
Outra fraude é a construção do novo prédio da Reitoria, localizado na Av. Ibirapuera - Vila Mariana, que foi licenciado depois da divulgação da licitação do prédio definitivo do campus Guarulhos, porém já está em pleno funcionamento, enquanto em Guarulhos não há vestígios do novo prédio.
Sim, não encontramos outra medida, depois de tentativas exaustivas de negociação, a não ser a paralisação. Estamos em Greve desde o dia 21/10, Santos desde 6/10. Mas não pretendemos parar por aí, estamos discutindo uma possível Greve Geral, mas esse processo ainda está em andamento e elaboração.
Sabemos, contudo, que a Greve, de certa forma prejudica o semestre dos alunos, e muitos deles estão se posicionando contra a Greve por conta disso. Porém, também temos consciência de que a Greve é em prol de causas legítimas, e bem maiores do que um semestre de aula. Se conseguirmos atingir as reivindicações, estaremos beneficiando a todos, desde funcionários até professores. Portanto acreditamos que abrir mão de privilégios individuais se apresenta como a única maneira de conseguir atingir os interesses do coletivo.
Através da paralisação, Guarulhos ainda não obteve respostas concretas, apenas medidas paliativas para solucionar nossas questões. Umas dessas medidas foi a implementação de três ônibus de viagem, que farão o transporte dos alunos da UNIFESP Guarulhos, gratuitamente, saindo do Metrô Itaquera, em horários pré-definidos. Já é uma conquista, porém muito vaga e insuficiente.
Sendo esta a única medida (paliativa) apresentada, os estudantes se reunirão nesta terça feira (9/11) para decidir se a paralisação continua ou não.
Não é justo nem cabível que a Educação seja negociada como mercadoria, tampouco retalhada e oferecida sem as mínimas condições para que se faça real, se concretize na vida das pessoas. UNIFESP Guarulhos é só um exemplo de como se está tratando a educação no Brasil, com descaso, com negligência.
Nós, estudantes da UNIFESP estamos travando uma guerra com as condições adversas e com as autoridades (apáticas e burocratas), para fazer valer nossos direitos, para exercer nossa cidadania, e por conta disso, já fomos reprimidos, tanto pelo polícia quanto pela Reitoria, que se utilizou do golpe mais baixo para boicotar as atividades de greve – Fechar o “bandejão”, deixando assim, a mercê os alunos que precisam dele para se manterem na universidade PÚBLICA.
Pois sim, se a resposta da Reitoria é essa, e se a falta de resposta das autoridades é tal, a greve tem que prosseguir, portanto, todos os alunos que sofrem esses problemas tem de se mobilizar. Greve não é férias, Greve é trabalho duro, é mobilização, é negociação, é cidadania, é expressão. A Greve de Guarulhos tem de se consolidar, os estudantes têm de entender a importância desse ato, e sobretudo o lugar que esse ato nos coloca como seres políticos.
Sair da nossa zona de conforto é necessário, não podemos deixar que as coisas impostas saiam ilesas ao nosso senso crítico.
Quem paga, não deveria, educação não é mercadoria.
(a frase do título é de Arthur Barrio, artista plástico)
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Oi Maitê.
A propósito da greve, matutei um tanto naquelas coisinhas que falamos no busão sobre os problemas de organização, que são tantos. Não tem jeito mesmo, fico também com a ideia de uma democracia ampla: ou todo mundo no mesmo bote, ou todos se afogando!
As pautas precisam ser atendidas, é claro. Mas, francamente, isso não me importa tanto, e seria melhor conseguir apenas metade agora desde que ficasse a experiência; que é esta, como tu diz: "abrir mão de privilégios individuais se apresenta como a única maneira de conseguir atingir os interesses do coletivo".
Abraços.
João.
O Homem dificilmente sai de sua zona de conforto se está zona não se tornar desconfortavel, há uma questão essencial que parece não ser classificada com a devida importancia. O "comodismo" que infelizmente parece ser atitude de uma maioria.A estética da politica é sim a guerra, mas tanto na guerra quanto na Política a dois Pólos que tornam a briga um pouco mais justa, primeiro o poder de um dos lados segundo: Um numero grande, motivado e fiel de soldados.
A questão é, falta alguma dessas coisas para o sucesso dos estudantes?
Se sim, Como podemos fazer para tirar as pessoas dessa Zona de conforto e motiva-las a abraçar a causa com braços pernas cabeça e coração. Medidas reais de estratégia, além de discursos. Se isso já está sendo feito, e se não está obtendo sucesso, a questã é:
O que mudar na estratégia de greve?
a
Apelo popular e o que torna a sociedade tão forte quanto aqueles que tem o poder.
Se tudo isso já está sendo feito, o negócio é continuar, pois a causa é justa e mostra que as pessoas que estão realmente envolvidas e preocupadas pensam num futuro, pois infelizmente a tendencia é as coisas piorarem.Já que parece ser moda na politica atual tanto do governo quanto da oposição ganhar eleições em cima de numeros e saliva.
Bejinho.
Postar um comentário