domingo, 30 de junho de 2013

- fome de nada.

Caminhando nas ruas frias de São Paulo, olhando atentamente as vielas, os cantos, os buracos, percebi que eu ainda não encontrei nada aqui que me faça desistir. Nada que me impeça de ir trabalhar, nada mais. Eu olhei pra tudo olhei pra mim, olhei pra você, olhei pra nós. Retomei anseios, retomei à mim. Não sei o que fazer com isso, não sei o que fazer quando estou na minha presença, há algo que se possa fazer? Os famintos, como eu, recusam-se a esperar, esperar por alguma coisa, recusam-se a culpar a si mesmos por não caminharem. Eu estou faminta, e nada que tenha preço pode sanar minha fome.

Um comentário:

João disse...

"Os famintos, como eu, recusam-se a esperar, esperar por alguma coisa, recusam-se a culpar a si mesmos por não caminharem".

Quando dizem: fulano faz, fulano vai, e faz. Invejo fulano, realmente o admiro, porque, afinal, não sou fulano.

Uma culpa tão fácil de assumir... Que desconfio se é mesmo uma admissão de culpa, sem nenhuma consequência mais grave, do tipo: como eu sei que não faço, deveria ao menos saber que isso não deixará de ser indesculpável.

Nunca, como hoje, foi tão tranquilo não fazer absolutamente nada. É natural. Inevitável. Como se existisse uma força para além de nós mesmos, que justifica nosso derrotismo. Tem uma força contrária, no entanto, que é essa fome que você fala.

"Canter-se-á em tempos sombrios?
Sim, cantaremos sobre os tempos sombrios"

Do Brecht. Um beijo.

João.