quarta-feira, 28 de agosto de 2013

- a nuvem.

O que nos diferencia (para além de sermos estranhos e alheios a nós mesmos, ao nosso desalento, nosso sofrimento participativo! Fica aqui uma quase ironia) é a capacidade de imaginar, abstrair, criar imagens. Somos seres mágicos, mitológicos e nos projetamos no mundo com nossa marca inapagável, esteticamente tradutora de quem somos, do quanto ocupamos em nós, do quanto ocupamos do mundo. Somos aquilo que imaginamos, com a facilidade e simultaneidade dos nossos impulsos criadores. Imaginamos, abstraímos e logo depois materializamos a nossa imagem. Como seres que ocupam muito mais do que espaços, lugares e tempos. Ocupamos também os não-lugares, a não-temporalidade, ocupamos nossa imaginação inteira, nossa expansão inteligente no cosmos do mundo - que vai sempre além de nós, mas, nada mais é do que nosso alcance imaginativo. Como se tudo que nos rodeia fossem nossos próprios sentidos, todos eles misturados numa sinestesia absoluta, onde os cheiros ganham formas imaginárias, formas se tornam matérias enigmáticas e etc, que se transformam em mitologia de nós, do nosso ser. Somos diferentes porque sepultamos seres mortos e os pintamos nas paredes, telas e máquinas fotográficas. Somos diferentes porque não nos bastamos. Codificamos e decodificamos o mundo, onde nossos signos só fazem sentido numa microesfera da nossa própria comunidade humana, fragmentada em pequenos grupos humanóides. Somos assim, porque estamos numa bolha-homem. Homem na sua mais pura intimidade, quase como se o mundo fosse espelho de si mesmo. A memória se projeta na natureza, se espatifando no chão, deixando rastros. Pelo chão do mundo estão as imagens que compõem quem somos. Somos e nem sabemos. Somos e não nos reconhecemos. Somos, porém, e não nos esquecemos. Não sei, mas como homem que sou, precisava marcar no espaço nuvem - virtual, aquilo que projeto e imagino sobre aquilo que estou pensando justamente sobre isso, e essencialmente por ser isso. Como vamos nos reconhecer, se nossas marcas são tão virtuais, num futuro intocável?

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