quinta-feira, 30 de julho de 2015

Metade.

Existir já é uma pergunta. Nos últimos tempos tenho sentido um mal-estar em tudo aquilo que pergunta. Tenho andado nas ruas sem saber quem existe. Tenho tido muito tempo pra pensar nas coisas dos livros. Eu queria poder voltar. Nenhum dos dias tem sido fáceis, uns choram, outros riem, outros se entorpecem rindo e chorando da vida que vos cabe, que nos cabe.

A cidade é a síntese do desespero, é a junção das angústias, é o chão e o céu, apenas. Ninguém sabe como carregar as coisas que estão entre eles...perdemos a trilha de pão, perdemos a fórmula da criação, perdemos a noção de que a felicidade é algo que inventamos pra colocar no lugar das nossas próprias vidas vividas. Não produzimos. Nos desviamos. Se viemos ao mundo pra não achá-lo bom, não há nenhuma substância na existência. Quem fez o mundo questionável? O mundo é.
As pessoas choram, cada vez mais sozinhas, procurando como voltar a existir, elas querem se conectar, mas não conseguem mais se achar no meio de tanta parafernalha...elas não produzem - não existem. Não existo.

O problema é que eu nunca acreditei nas coisas médias. Nunca acreditei na esperança do quase, porque o quase não existe. O quase é uma palavra que não faz com que as coisas aconteçam ou deixem de acontecer. Quase morrer não é morrer, quase nascer não é nascer. Quase é quase nada. Aí mora o problema. Sendo quase nada, já é alguma coisa. O quase prende tudo e todos na ilusão do que não é.

Eu nunca gostei de ver o pôr-do-sol da cidade, é medíocre, é quase bonito, mas não é. Eu odeio quem pondera, odeio as diplomacias, odeio juízes, odeio a alegria besta. Eu nunca soube lidar com Machados de Assis do colégio, nem com os Jorges Amados. Eu nunca gostei da ideia de submeter as coisas bonitas ao médio da vida. Eu odeio mulheres que amam não amando, e homens que nunca amam. Odeio frases não ditas, odeio imagens dizentes, odeio as peças que são de graça, odeio choro nem vela.

Eu não consigo lidar com as famílias médias, eu não consigo lidar com a força-meia, eu não sei enlouquecer "pero no mucho". Eu não sei lidar com os quase loucos.
Eu detesto seres simpáticos, eu odeio o livre-mercado, eu odeio o trabalho, eu odeio os amores folhetinescos, eu odeio a meia-vida, eu odeio a ideia do copo meio cheio, eu odeio auto-ajuda. Eu não sei lidar com meio-mundo.  Eu não sei lidar com a metade.
Eu tenho certeza - a metade de mim que diz isso é inteira, a outra está completamente louca.

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