quarta-feira, 20 de maio de 2020

No buraco.

Foi assim que as baratas encontraram a forma perfeita para existir sendo quem são. Quantos milhares de anos, milhões até, forjaram sua casca brilhosa, marrom- escuro, seu tamanho pequeno, mas notável. Suas asas, por vezes, falhas, mas assustadoras. Sua inércia conveniente. Suas tocas na escuridão. Quantos milhões de anos foram necessários à barata, para que ela evoluísse para ser o que ela é.
Precisamos aprender com as baratas que não temos que ser grandes e venenosos para sermos imbatíveis. Nem límpidos, nem limpos. Podemos nos entocar. Podemos sair correndo quando as luzes acenderem. Podemos assustar com a nossa feiura simples. Não a barata de kafka. A barata do quarto, que perturba o sono. O que elas podem nos dizer depois da bomba de Hiroshima, ou Chernobyl?
Elas aprenderam a ser assim? Nem grande, nem venenosa. Só feia, pretensiosa e sacana.
Aprenderemos com as baratas, que vivem anos escondidas no buraco do batente da porta, e ali constrói seu império, e ali procria, e ali descansa.
Aprenderemos com as baratas.
As baratas, com suas cascas reluzentes, nos ensinarão sobre coragem.

Nenhum comentário: