quarta-feira, 30 de abril de 2008

- Epicentro.

Quando vem, vem de uma vez.
Chuva, chuva. Carros passam de lá pra cá, numa agonia que estrangula o céu, comprime as Avenidas e tornam imperceptíveis as pessoas e seus guardas-chuvas. Uns esbarram nas paredes dos edifícios, outros preferem as capas, alguns optam pelo sabor meio ácido da chuva de São Paulo - Capital.
Há quem diga, que se pode usufruir da chuva e seus sabores, e eu ainda prefiro acreditar que esta afirmação, descabida talvez, seja verdadeira.
Olhando de longe, parecem apenas luzes, se enfileirando em meio as àguas agitadas, que fazem do cenário um pouco mais cinza. A água se torna cinza também. Tudo parece ser estatizado, como se fosse fotografado por um alguém imaginário, por ângulos secretos. Olhares secretos.
Quantos ali, gostariam de um abraço, um afago, ou somente uma cama quente com cobertores macios? Impossível realizar a contagem, e mais impossível ainda aproximar alguma resposta.
Onde quero chegar? Não sei. Acho que a lugar algum. São só relatos de uma cena corriqueira (que esconde complexidades, impossíveis de serem relatadas).
A passarela, parece mesmo um altar, um altar sagrado de onde um Rei observa seus súditos. E as vezes é bom sentir-se Rei, mesmo sem coroação prévia. Sem cerimônias e obrigações.
Eu, com todas as visões e sentidos amplos e aguçados, naquele momento não tenho a sensibilidade de destngüir quem sou. Talvez seja o que quiser, o que quiserem, ou o que conseguirem exergar interna ou externamente. Fácil, simples assim.
A chuva foi gradualmente parando, até que parou, cessou. A sensação de Rei foi se enfileirando junto aos carros e partiu. A fotografia, antes cinza, foi ganhando cor. E eu, voltando a ser normal.

3 comentários:

mandii. disse...

eu sempre acho estranho quando isso acontece comigo.
vai ver eu quem sou estranha (:
mas qual é a graça de ser normal?
a cor da chuva é cinza.

André Correia disse...

Arrrrrrrrr...
nada como dias chuvosos....
amei o texto, bem estruturado, além do ótimo nível de lirismo...
x)

Unknown disse...

É eu tbm me sinto assim numa certa passarela.

Mesmo nos dias de chuva, calor, neve, outono, sempre me sinto rei, e sempre vejo as cores, talvez seja essa a diferença entre eu e a menina do texto.

Beijo!